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segunda-feira, março 28, 2011

Contando ninguém acredita...

ou
Um dia de lacraia
ou
Desgraça pouca é bobagem...

Eis que a nossa personagem chega em casa, com fome, depois de um dia longo de atividades (aula pela manhã, atividades da iniciação científica -incluindo reunião científica - à tarde, sapateado irlandês à noite e ainda uma passada rápida no mercado -qualquer semelhança com a realidade NÃO é mera coincidência).
Ela prepara seu prato, o esquenta no microondas, separa sua salada. Para temperá-la, usa um limão que havia já deixado cortado outro dia porque o usara para tomar 1/2 shot de tequila. Ainda sobrou 2/4 de limão após temperar a salada, então o chupou sem dó (na verdade, com dó de jogar fora) e sem dor. Pensou: "nem o azedo do limão me incomoda mais" e jogou o bagaço no lixo.
Quando foi lavar a mão na pia da cozinha, algo surpreendentemente nojento sobe do ralo (que, sim, estava tampado): uma lacraia com aquele monte de perninhas e seus dois ferrões!
O tremor subiu pelo corpo da menina... ela não sabia o que fazer!!! "Cadê minha mãe? meu namorado? Eu não quero ligar pra vizinho nenhum do prédio!!!". Pensa... pensa...
Pegou o telefone e discou o número da amiga mais próxima:
A: Oi!!!
B: Oi. Quem é?
A: Sou eu! Seu namorado ta aí?!
B: Não...
A: Tem algum menino aí?!?!?! Porque tem um centopeia, uma lacraia, sei lá, um bicho muito nojento aqui!!!!
B: Pera, vou passar o telefone.
C: Oi!!! Que foi?!?!
A: tem um bicho nojento aqui!!!!!
C: Quer que eu vou aí tirar pra você?!?!?!
A: Ai, eu quero!!!
C: Tô indo.
[barulho de telefone desligando]
Nesse meio tempo, a garota engole sua comida evitando pensar na semelhança da sensação da salada de rúcula deslizando garganta a dentro com a consistência do corpo de uma lacraia passando garganta a dentro... e terminou de comer.
Sua amiga chegou indagando o paradeiro do bicho. "Ah, sei lá, ele tava aí na pia", disse com voz chorosa.
"Mas não tem nada aqui"
"Liga a torneira e joga água nas beiradinhas"
"Ahhhh, agora eu tô vendo!!! É... realmente esse bicho é nojento mesmo..."
"EU NÃO FALEI??!? AHHHH!!!!". Saiu pulando da cozinha até o banheiro.
a lacraia surgiu novamente das profundezas do ralo...
"Toma a cândida! joga aí!"
"Era isso o que eu ia pedir. Tem veneno de barata também?!"
[Procura, procura no balde, procura debaixo do pano]. "Achei!"
E lá se vão cândida e veneno de barata pelo ralo. A louça em volta terá que ser relavada, desinfetada, desintoxicada...
"Ah, e se a gente jogar água quente?", diz a amiga.
"Boa!!!"
"Nossa, quando você fica nervosa você perde sua inteligência... huahauhauh"
=S
E lá se foi água quente ralo abaixo... e álcool em gel também...
"Acho que agora ela morreu"
"É, também acho... mas acredito que terei pesadelos quando for dormir... BLERRRRGGHHH"
"Agora você vai precisar deixar essa louça de molho na água quente..."
"ah, eu tenho uma bacia! vou pegar!"
[porta do armário. vasculha, vasculha, tira as panelas de cima da bacia... pena que esbarra no vidro de azeite guardado ao lado...].
"Nããããoooooo, o meu azeite!!!!"
"Já ouviu falar que desgraça pouca é bobagem?!"
"Nããããoooo, vai dar 'mó' trabalho pra limpar!!!"
"Pega uns panos logo antes que essa poça de azeite se espalhe"...
E assim, a menina e a amiga terminam a noite lavando a cozinha...

OBRIGADA, AMIGA!!! VOCÊ SALVOU MEU DIA (minha noite, na verdade...)

Leitor, eu precisava compartilhar isso porque, como diria minha amiga, se fosse primeiro de abril ninguém iria acreditar! "Se você me ligasse no dia 1º de Abril dizendo que tinha uma lacraia na sua pia, eu iria retrucar: ah, conta outra melhor, vai!".
Pra você, que nunca viu uma lacraia:

AAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH



terça-feira, março 15, 2011

bRAINstorming


(é mais ou menos assim que enxergo quando eu e meus óculos ficamos encharcados)

Dizem que os melhores textos são aqueles elaborados em momentos penosos, de angústia e que os melhores autores são aqueles com a sensibilidade à flor da pele tendendo para o trágico... ta aí Álvares de Azevedo para provar (na verdade, ele não está aí mais porque já morreu faz tempo, provavelmente de tuberculose e virgem aos 21 anos, se não me engano. Ah, e tem também o Lord Byron... mas eu não sou muito familiarizada com a história dele).
Se isso for verdade mesmo, esse será um dos melhores textos que já escrevi... porque, no momento estou me sentindo a mais nerd perdedora do mundo, molhada, cheia de sentimentos úmidos para compartilhar. Tente imaginar a situação: seu único meio de transporte é uma bicicleta (por não ser poluente e muito econômica; vida de estudante, sabe como é...) em uma cidade que chove de Dezembro a Dezembro... e não é exagero! Cheguei em casa com muitas partes do meu corpo e suas extensões (roupas, bolsa) molhados. E agora estou sentada aqui escrevendo sobre as minhas angústias, se posso chamar assim.
A chuva não deveria ser uma coisa que incomoda, porque faz parte da vida chover. É necessária! Eu sei, eu sei! Mas nessa cidade aparentemente não existe o direito de permanecer seco. Ora se está pingando de suor, ora de chuva.
A água me deu uma surra hoje, estava caindo dos céus com os punhos gelados fechados. E pior que eu não me importo em pegar chuva, pra mim o copo sempre está meio cheio. Mas o que estava meio cheia hoje era minha paciência, talvez seja pela falta de sono...
A chuva daqui, como está bem descrito em #JussanComents#, é assim: "Guarda-chuva é ineficaz aqui nessa cidade, a chuva não vem do céus, mas sim do chão, de frente, de lado, rodopiando, fazendo espirais no ar. Pode até tentar abrigar-se numa tenda que ela acaba rasgando e cedendo em você uma rajada d'água que chega esnobando gritando: HA! MOLHEI!".
HA, molhou mesmo! Meu cabelo recém-lavado, minhas calças, meus olhos, minha alma.
Já tentou pedalar de óculos embaixo de chuva, embaixo de árvores (primeiro que, por 3 segundos, um galho quase cai na minha cabeça)?
O pinga-pinga das folhas das árvores pingava dentro dos meus olhos, que dor, impedindo-me de enxergar e nem as lentes dos óculos eram mais eficazes para me proteger. Além disso, as lentes dos óculos tomadas pela água. Por sorte não atropelei um pedestre ou fui atropelada.
É nessas horas que eu gostaria que a saga de Harry Potter fosse verdade: poderia realizar um feitiço impermeabilizante nos meus óculos e nos meus pertences e ir para os lugares aparatando e desaparatando (já sou maior de idade, mesmo).
Queria saber o que as pessoas que me veem de dentro dos seus carros pensam enquanto eu vou deslizando com minha bicicleta. Tenho alguns palpites: "Nossa, que dó...!"; "Ainda bem que eu tenho carro"; "Essa menina é burra de não usar capa e guarda-chuva?!". Às vezes, sinto dó de mim mesma.
Calma, leitor, a sessão de autocomiseração já vai acabar. Agora vem o frio, depois da cortina de água gelada misturada ao vento e ressaca marítima.
Só consigo pensar num banho quente, na minha cama quente...
Eu gosto da chuva, mas hoje não foi um dia de Boa Chuva! como tantos outros que já tive. E este, definitivamente, não foi o meu melhor texto... foi só um despejar de palavras (como o próprio título sugere, aliás).


domingo, março 13, 2011

Um Carnaval de cozinha! - Experimentos de feriado

Nesse carnaval, eu cozinhei como se não houvesse amanhã!!!! Cozinhei por seis horas ou mais seguidas!
Mas primeiro... aquela ida ao supermercado básica: uma lata de tomates pelados (um absurdo!!! eles vieram da Itália e saem mais em conta do que comprar tomate comum!), carne, massa tipo penne integral, cenoura, etc, etc, etc.
Fiquei com vontade de cozinhar porque eu já estava planejando gastar alguns ingredientes da minha geladeira e do armário e também porque minha mãe me ligou dizendo que havia feito macarrão à bolognesa e frango com quiabo e eu não estava lá para apreciar esses quitutes...
Então, mãos a obra! Comecei pelo macarrão à bolognesa. Foi a primeira vez que cozinhei carne moída na vida e também abri uma lata de tomates pelados. Foi emocionante. Sobrou muita carne porque fiz o cálculo superestimado do fator de cocção... achei que a carne iria reduzir pela metade, mas reduziu 1/3, enfim.
Depois de pronto o macarrão à bolognesa (sem segredos, só com um pouco de frescura!), passei para meu bolo de chocolate que faço sem receita... vou vendo pela consistência da massa se está dando certo, e deu!!! Ficou fofo, uma delícia!
E, por último, mas não menos importante: O Rocambole de Soja. Vou lhe dizer que foi o que deu um pouco mais de trabalho, pena que não tenho foto... mas aqui vai a receita:
Massa do rocambole
1 xíc chá de soja crua
1 xíc de farinha de rosca
1 xíc de fécula de batata
1 limão pequeno
1 cebola pequena
3 dentes de alho
Sal a gosto
2 ovos

Modo de preparo: deixe a soja de remolho frio por 6horas ou remolho quente por 1h30 até soltar as casquinhas. Cozinhe sob pressão por uns 20 min. Jogue a água de cocção fora. Bata a soja no liquidificador com meio copo de requeijão de água. Pegue essa massa e misture com os ovos, as farinhas, cebola, alho e limão e misture com a mão até a massa desgrudar da mão.

Recheio:
1 cenoura pequena
2 tomates sem pele
1/2 cebola
150 gramas de queijo (prato ou padrão)
dica: tempere com azeite e orégano
Abra a massa do rocambole, recheie, enrole e coloque para assar em forma untada com óleo no forno a 180 ºC. Demora aprox. 45 min no forno.

Nesse dia, cozinhei das 14h às 20h30 e foi muito prazeroso porque depois recebi meus amigos em casa e comemos todos juntos.

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Ahhh, a comensalidade...
Além de preparar as coisas sozinha, no dia seguinte fizemos uma preparação coletiva. Foi muito divertido ver  um cortar uma cebola pela primeira vez o outro cortar um tomate. Depois na hora de misturar tudo com queijo na panela deu tudo errado porque deveríamos ter deixado o tomate e a cebola secarem um pouco, mas tudo bem... deu tudo certo após despejarmos o líquido sobressalente na pia (crianças, não façam isso em casa...). Foi uma preparação bem universitária: tomate com cebola, queijo e orégano para se comer com pão.
E foi muito bom comer ouvindo as histórias "brilhantes" (quase literalmente) do meu amigo Jussan Coments...
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No outro dia, ainda resolvi fazer uma torta de carne com a carne moída que eu não precisei usar para o molho à bolognesa.
Para a massa:
2 xíc de farinha de trigo
1/2 xíc de óleo
1/2 xíc de leite
1 col chá de fermento químico
1 pitada de sal

Coloque primeiro os ingredientes secos e misture a massa com as mãos até ficar homogênea, mas NÃO sove!
Abra a massa com um rolo (ou uma garrafa/copo de vidro, como é o meu caso. Às vezes é preciso improvisar, né...) e forre a forma.
Para o recheio, refoguei a carne com cebola, tomate, cenoura e tempero (mistura de alecrim, orégano e o que mais você quiser).
Coloque o recheio dentro da massa aberta na forma, cubra-o com mais um pedaço de massa e asse em fogo baixo (180 ºC).



A parte ruim de cozinhar é limpar a bagunça que fica depois, mas we gotta do what we gotta do...
E é ainda um desafio maior fazer tudo isso em uma cozinha pequena, é necessário CRIAR o espaço.


Mesmo assim, fiquei muito feliz por ter conseguido fazer tudo isso e dividir com meus amigos!
E para fechar com chave de ouro: CONSEGUI PELA PRIMEIRA VEZ, depois de muitas tentativas, FAZER UM MOLHO BRANCO DECENTE!!! Sem empelotar! Quando olhei para a panela e vi aquela obra-prima a alegria tomou conta de mim e quase chorei de emoção! 
Até então, eu achava que era um desastre na cozinha! Na verdade, quando fiz o técnico em nutrição, como as aulas práticas eram muito estressantes (pelo menos para mim), eu tinha muito medo de errar durante a preparação e de que o resultado final não fosse como o esperado (a coisa com o molho branco começou aí, nessas aulas, e sempre dava errado e empelotava e eu não conseguia entender por quê). 
Desde o ano passado, venho tentando  perder esse medo (não que eu tenha parado de cozinhar, às vezes saía um bolo aqui, outro ali, mas nada de muito especial e eu lembro de quando eu era criança eu adorava ajudar minha mãe na cozinha, principalmente colocar a mão na massa para sová-la, e isso foi se perdendo ao longo do tempo e na época do técnico chegou ao fundo do poço, cozinhar era até doloroso...) e acho que nesse feriado eu realmente me superei...
Na arte de cozinhar, como em outras artes, o aperfeiçoamento, treino e experimentação andam juntos. 

quarta-feira, março 09, 2011

The Road

This sinuous road
Can't know where it's going
Hypnotic

The bittersweet smell with fear and uncertainty
Fulfills the hot air
Don't know where I'm going
It calls

Walking, I hear the sound
A deep velvet voice
Don't know if it's calling or not
It overwhelms

Dizzy and numb
Step by step I go further
Without going forward
Almost unbearable

There's no visible path
Shivering, I stumble in the holes
Tricky is the road...


Pensei nesta música durante o processo criativo:

terça-feira, março 08, 2011

Dia Internacional da Mulher

Este dia não pode passar em branco. Eu fiquei quebrando minha cabeça para pensar em algo legal para postar, eis que me deparei com uma reportagem da revista Superinteressante sobre hoje:

7 fatos sobre as mulheres


Redação Super 8 de março de 2011
por Maria Gomes

COLABORAÇÃO PARA A SUPERINTERESSANTE


Para muita gente, 8 de março é apenas um dia em que mulheres recebem flores na saída de restaurantes e lojas. A data, porém, marca mais de um século de movimentos pela emancipação das mulheres. Foi nesse dia, em 1857, que operárias fizeram marcha em Nova York por redução da jornada e igualdade salarial entre homens e mulheres. Parte dos relatos dá conta de que elas foram trancadas e queimadas após o movimento. Em 1917, na mesma data, trabalhadoras de Petrogrado fizeram greve às vésperas da Revolução Russa. 8 de março, portanto, é um dia que não pode ser passado em branco. Em homenagem ao Dia Internacional da Mulheres, listamos 7 fatos sobre elas.
Apanham a cada 2 minutos
Em 2006, o ex-presidente Lula sancionou a Lei Maria da Penha, que pune agressões contra mulheres ocorridas no âmbito familiar. Ainda assim, cinco mulheres apanham a cada dois minutos no Brasil, segundo pesquisa da Fundação Perseu Abramo em parceria com o Sesc.  Há 10 anos, o cenário era ainda pior: oito mulheres eram agredidas no mesmo tempo. Ainda que a lei preveja até prisão para o agressor, os números mostram que intimida muito pouco os que cometem este 
tipo de violência.
[...]

Desigualdade ainda impera
Ainda que as mulheres sejam maioria no Brasil, elas ganham menos até quando ocupam os mesmos cargos no mercado de trabalho. Por diferenças como essa, o Brasil ocupa o 85º lugar em ranking que mede a desigualdade de vida entre os sexos em 134 países, segundo o Relatório Global de Desigualdade de Gêneros, apresentado no Fórum Econômico Mundial no ano passado. O ranking considera participação na economia, no mercado de trabalho, na política, entre outros fatores. Na questão da renda, por exemplo, a média anual do que as mulheres recebem no Brasil é de R$ 12 mil, enquanto os homens ganham cerca de R$ 20 mil.
[...]

São sub-representadas
Em 2010, o Brasil elegeu sua primeira presidente mulher, após 39 homens ocuparem o cargo. Mas, se no poder Executivo elas estão representadas, não se pode dizer o mesmo no Legislativo, onde de fato o papel do congressista é a representação da sociedade. Na Câmara, as mulheres ocupam apenas 8,6% das cadeiras, no Senado são 16%. A Lei Eleitoral prevê que partidos e coligações tenham pelo menos 30% de seus candidatos do sexo feminino nas eleições para o Congresso. O problema é que, mesmo quando a lei é cumprida (o que nem sempre acontece!) os votos em mulheres ainda são escassos. Será falta de confiança ou puro preconceito?
[...]

Ainda são mutiladasCerca de três milhões de meninas correm risco de sofrer mutilação genital (remoção parcial ou total do órgão genital), segundo a Organização Mundial de Saúde. A prática é adotada em pelo menos 28 países (como Egito, Quênia e Sudão). Geralmente feita de maneira precária e sem anestesia, o procedimento é considerado pelos grupos que o adotam como fundamental para preparar crianças e adolescentes para a vida adulta e o casamento. Estima-se que 140 milhões de mulheres tenham sido submetidas a este tipo de mutilação.




Ser mulher é um desafio diário: aturar piadinhas e olhares machistas (quem gosta de se sentir um pedaço de churrasco?), enfrentar as variações hormonais e de humor mensais, acompanhadas muitas vezes de dor, aguentar a violência diária expressa de diversas formas...
Homens e mulheres são sim diferentes, diferenças essas perceptíveis na forma anatômica, na fisiologia, enfim. Mas isso não significa que as mulheres são frágeis ou menos capazes. Devemos ser respeitadas nas nossas diferenças e peculiaridades.

Mulher: SEJA!

FELIZ DIA INTERNACIONAL DA MULHER!  

segunda-feira, março 07, 2011

Slow Food + Manifesto de uma coprodutora indignada!

O movimento Slow Food surgiu em 1986, com o italiano Carlo Petrini que se indgnou ao perceber que as técnicas tradicionais de culinária de diversas regiões e alimentos regionais estavam se perdendo e dando lugar ao McDonald's e alimentos importados padronizados e sem sabor.
As diretrizes desse movimento são resgatar o prazer em preparar a própria comida e consumir alimentos BONS, LIMPOS e JUSTOS.
O conceito de BOM no caso é relativo, pois o que pode ser bom pra mim aqui ño Brasil, na Região Sudeste pode não ser bom (e provavelmente não será) para uma pessoa que mora em Dubai. Mas o alimento bom é aquele que você sabe da onde veio, tem gosto (ou como o próprio Petrini escreve em seu livro "características organolépticas superiores" que são valorizadas na hora de seu preparo*).
LIMPO é o alimento cultivado de modo orgânico e o tempo da natureza é respeitado; o transporte para chegar até os consumidores também deve ser o menos poluente possível.
JUSTO: os pequenos produtores locais são valorizados e respeitados pelos seus cultivares.
Um dos objetivos do movimento é fazer-nos perceber que também somos parte da cadeia de produção da comida, somos coprodutores. Sendo assim, comer é o primeiro ato político que você exerce por meio das suas escolhas, pois envolve questões socioeconômicas, culturais e até mesmo religiosas.

*Para saber mais, leia: SLOW FOOD -princípios da nova gastronomia

Dito isso, agora posso expressar toda a minha indignação quando vou ao supermercado. Antes, quando era mais ingênua, ir ao supermercado me deixava muito feliz, não que hoje eu desgoste, ainda me traz certo prazer, mas quando caminho por entre os corredores ou pelas bancas de hortifruti, sinto vontade de... CHORAR!!!!
Tudo que vejo são caixinhas, embalagens coloridas, latas, etc, etc, etc (penso em produção de lixo, lixo, lixo e mais lixo, eu mal acabei de levar meus recicláveis aos postos de coleta e quando chego do mercado, já encho as sacoles de plático, papel e metal novamente)... ok, podem até tornar a vida dos donos de casa mais fácil, mas ao mesmo tempo, acredito, afastam-nos dessa relação milenar homem-alimento. Afastam-nos do poder tocar, sentir o cheiro, a consistência, do prazer em preparar, ver a transformação da matéria "bruta" ali na sua frente, e com um toque de carne e temperos (que pode ser canela - ver "O tempero da vida"), ver aquela massa aparentemente disforme tornar-se uma almôndega, um bolo, um rocambole ou o que quer quer seja...

E quando passo nos hortifrutis, baldes de lágrimas!!!! Cadê os vários tipos de tomate além do comum (débora, cereja, etc, etc)??!?!? As várias abóboras (até vou colocar a foto das abóboras de novo para ilustrar quantos tipos existem e não vemos nem a metade no mercado)...
... cadê os pepinos tortos que só porque são tortos são ignorados e isso é um absurdo!!! Eu quero diversidade e sabor!!! Não quero pepinos/abóboras/tomates do mesmo tamanho e aguados, cultivados com agrotóxicos, isso não é natural!!!
Onde estão as frutas brasileiras araçá, araçá-boi, abricó, maracujá nativo, amora do mato, buriti, etc?!?!?!. Eu nunca comi um araçá ou um buriti, mas eu sei muito bem qual é o gosto de uma laranja e um blueberry! Isso é outro absurdo!!!
Quero conhecer o gosto e a textura dos alimentos brasileiros, quero conhecer quem os produz e respeitá-los, quero receber a cesta do produtor em casa, quero minimizar os desperdícios de alimento, quero alimentos BONS, LIMPOS E JUSTOS!!!