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domingo, fevereiro 27, 2011

Tornar o estranho, familiar... tornar o familiar, estranho

Faz um tempo que queria postar isso, mas outros pensamentos vieram pelo caminho.
Vou tomar emprestada uma brincadeira que a Neide Rigo faz no blog dela (COME-SE):
O que é? O que é? (mas não vou esperar até segunda para responder e, uma dica, não é necessariamente comida)





Se você pensou: "Ah, deve ser um osso", acertou. Sabe do quê?! Nada mais, nada menos do que o de uma baleia. Ele foi encontrado por pescadores do litoral sul. Não sei bem ao certo como apareceu lá no sítio e isso faz, no mínimo, uns dez anos. Eu ainda era uma criança... e imaginação de criança vai longe, achava que fazia parte da cabeça da baleia. Ok. E esse tempo todo essa informação ficou lá guardada.
Anos se passaram, entrei na faculdade e passei a cursar uma "disciplina" chamada Trabalho em Saúde e uma das primeiras coisas discutidas nesta é que devemos tentar nos despir de pré conceitos e enxergar os detalhes das coisas com um outro olhar. Às vezes eu fazia isso, mesmo antes dessas aulas, me pegava chegando em casa à noite, depois da escola, e percebia minha rua, aquela que eu sempre morei e passei incontáveis vezes, prestava realmente atenção nas casas, me perguntava por que os portões são desse ou daquele jeito, o que as pessoas estariam fazendo, chegava em frente à minha casa e prestava atenção na árvore Chapéu-de-Sol que minha avó plantou há mais de 20 anos na calçada e pensava: "ninguém tem uma árvore exatamente igual a essa", olhava os detalhes do tronco, das folhas penduradas nos galhos, as folhas caídas, os líquens, enfim...
E o que isso tudo tem a ver com o osso?!
Bom, na faculdade comecei a ter aulas de anatomia, também. E o primeiro sistema estudado foi o aparelho locomotor (esqueleto e músculos) e isso inclui, óbvio, a coluna vertebral... formada por, claro, vértebras. Guarde essa informação.
Voltei ao sítio para passar o ano novo após quatro anos e meio sem ir pra lá. Fui até a varanda e sentei-me ao lado do osso para avançar nas páginas do livro "Admirável Mundo Novo", do Aldous Huxley. De repente, como Arquimedes ao descobrir a teoria do empuxo, gritei para mim mesma "EUREKA!!!!". Foi uma descoberta silenciosa, comecei a rir sozinha... Após sei lá quantos muitos anos finalmente descobri que parte da baleia pertencia aquele osso!!!! Depois de tantas aulas de anatomia era claro que aquilo se tratava de uma vértebra, uma vértebra de pelo menos 5 quilos, mas ainda sim... perceba o processso espinhoso, os processos transversos e o forame vertebral (por onde passa a medula espinal).


 Uau! Agora nem sei mais se tornei o estranho, familiar porque descobri que o osso que já conhecia de longa data era a vértebra da baleia ou se tornei o familiar, estranho porque aquele osso que eu pensava pertencer a outra parte do animal, era uma vértebra.
Olha só como coisas que achamos que conhecemos ainda podem nos trazer coisas novas... e eu posso me surpreender também se um dia eu descobrir que não é uma vértebra de baleia, mas sim de um dinossauro, talvez.

5 comentários:

Unknown disse...

Olá! Vi no seu perfil que um de seus interesses é teatro. Sendo assim deixo-lhe aqui o convite para que visite o meu espaço onde pretendo postar minhas dramaturgias. Abraço. Hasta!

Jonni disse...

Na verdade isso parece mais uma obra de arte moderna... aposto que se colocassem no MAM as pessoas iriam suspirar e tentar descobrir o que o grande gênio por trás desta obra queria nos passar! :-P

Unknown disse...

"uma das primeiras coisas discutidas nesta é que devemos tentar nos despir de pré conceitos e enxergar os detalhes das coisas com um outro olhar. "

Gostei muito disso.

Gostei que vc esteja lendo Admiravel mundo novo
que é, por sinal, um bom/ótimo livro, e gostei muito do seu texto. Bem construído.

Beijos Zi.

S&M disse...

Exelente o texto!
E adorei o comentário do Jonni.

Imagina quantas coisas estão ''jogadas'' por aí em formas de monumentos e as pessoas nem ao menos dignam-se a ler a plaquinha que explica seu significado (isso quando ela existe e não foi ainda saqueada).

Acho que seria uma boa mobilização pra fazer na faculdade (andei conversando com a Rafa - dou todo o crédito das mobilizações aos pensamentos dela).

Beijos!!!

Flávio Lapa Claro disse...

Gostaria que todos os calouros lessem esse texto.

Parabéns....
Flávio