Eu fiquei super feliz com a II Jornada da Nutrição que aconteceu lá na universidade nessa segunda-feira, 07/11. Discutimos muito sobre a formação do nutricionista: os desafios, os cenários, atribuições e uma questão muito importante, o território.
Como nós, estudantes, estamos nos inserindo e vivenciando esses territórios desde já? Em um campus de uma universidade cuja a "menina dos olhos" é o Projeto Político Pedagógico voltado para a Interdisciplinaridade e Intervenção junto as comunidades dentro dos equipamentos do Sistema Único de Saúde (nosso bom e velho -na verdade, novo- SUS), principalmente para a Atenção Básica, na qual a maior parte dos problemas deveria (e poderia) ser resolvido. Os próprios Ministérios da Saúde e da Educação (2005) enxergam como demanda (e um desafio) formar profissionais humanizados, mais generalistas, que conseguem ver cada pessoa no seu contexto, de forma integral, sem fragmentá-la, não torná-la apenas um "Trato Gastro-Intestinal Irritado que precisa de fibras, hidratação adequada e blá blá blá". NÃO! "Ela é a D. Beutrana, cuja a história de vida é 'essa' e ela pode estar assim por causa 'disso, disso, disso e daquilo outro". (Acesse: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pro_saude_cgtes.pdf)
A fala da Profª Dra. Rosa Wanda foi muito nesse sentido e de encontro com o que venho agregando e sedimentando nesses quase 3 anos: o nutricionista (na verdade não só, mas estou falando especificamente da minha formação) deve saber trabalhar em conjunto com outros profissionais da saúde e NUNCA desconsiderar que a o ato de comer, além de biológico, é social e cultural. O que falamos para os pacientes deve FAZER SENTIDO, ser parte do cotidiano daquele sujeito, estar inserido no seu contexto. E a questão do AMBIENTE NUTRICIONAL (oferta de alimentos de qualidade a preços justos, ou seja, "pagáveis", equipamentos de saúde para promoção e prevenção da saúde, equipamentos públicos para a prática de atividade física - e isso envolve também o aumento da segurança nos locais, pois não adianta nada ter uma praça linda ali na esquina cheia de lugares propícios para a prática de atividade física se para chegar lá você corre o risco de ser assaltado) não foi negligenciada como em outras discussões que participei não faz muito tempo. Porque não é só o fator genético, não é só o que os pais ou responsáveis oferecem, não é só uma questão de hábito. É uma questão de TERRITÓRIO e CONDIÇÕES SÓCIO-ECONÔMICAS. É um assunto para POLÍTICAS PÚBLICAS.
Não adianta nada falar para o Sr. fulano que mora no morro comer frutas E verduras E legumes todos os dias se para ir ao supermercado mais próximo ou a feira mais próxima, que vende esses alimentos com qualidade, ele precisa descer uns 200 degraus (lá não sobe carro, ônibus, quiçá moto; e ele é um senhor de 70 anos que tem diabetes, doença cardiovascular, reumatismo, artrite, dores na coluna, etc) e pegar mais um ônibus de pelo menos meia-hora.
É preciso elaborar estratégias, redes de cuidado...
E aqui eu faço uma breve digressão
Na abertura da mesa da Jornada e na fala da professora Rosa Wanda, surgiu essa questão do território e a profª Dra. Maria Angélica Medeiros citou Milton Santos, então me lembrei da época que fazia geografia. Discutíamos muito qual era/é o território da geografia sem chegar a alguma conclusão, e na minha opinião de técnica-em-nutrição-ex-futura-geógrafa-quase-nutricionista, não existe conclusão, mas aqui eu deixo uma das definições de território de acordo com Milton Santos que se encaixa muito bem na concepção do SUS: "O território, hoje, pode ser formado de lugares contíguos e de lugares em rede: as redes constituem uma realidade nova que, de alguma maneira, justifica a expressão verticalidade. Mas além das redes, antes das redes, apesar das redes, depois das redes, com as redes, há o espaço de todos, todo o espaço, porque as redes constituem apenas uma parte do espaço e o espaço de alguns. São, todavia, os mesmos lugares que formam redes e que formam o espaço de todos". Disponível em: http://www.proext.ufpe.br/pontao/images/stories/documentos/texto%20conceito%20de%20territrio.pdf
E a cada dia vivencio o fato da geografia, serviço social, história, filosofia, ciências sociais, literatura terem tudo a ver com Nutrição... não me arrependo em nada de ter feito o UM semestre e UM mês de licenciatura em Geografia, pois foi lá que conheci Josué de Castro, figura tão presente na Nutrição, e Milton Santos e suas discussões sobre o território.
Depois vieram as falas das coordenadoras dos serviços de saúde nos quais estamos inseridos e das veteranas que já estão concluindo os estágios. Foi emocionante ver como nossas inserções junto a comunidade, ainda na formação, fazem diferença nesses territórios e ouvir de pessoas de fora que a parceria que vem sido fortalecida a cada dia está realmente valendo a pena.
E ver também que, não sei se muitas, mas algumas sementes vêm sendo plantadas com a ideia de trabalhar e militar por uma Saúde Pública melhor e para todos. E eu tenho orgulho de estar em processo de formação incorporando essa ideia.
Um comentário:
Ísis, muito bom o seu post. Realmente, acredito que a inter, multi e transdisciplinaridade, e toda a humanização que tanto falamos na teoria ainda estejam começando a dar os primeiros passos na prática, de maneira desafiadora, mas com certeza nossa formação já voltada para esta vertente é desde já muito virtuosa e um grande avanço social. Espero que possamos dar frutos a trabalhos neste sentido e sensibilizar outros profissionais a o fazerem também, assim como mostrarmos o quão importante somos na sociedade, e o nosso papel estratégico dentro da equipe de saúde, seja em qualquer território que atuarmos. Acho que independente da área que nos direcionarmos, aquele "blá blá blá" de promover e manter uma alimentação adequada nunca deve ser deixado de lado, mas sim cada vez mais aprimorado e voltado para as necessidades reais de cada indivíduo, como muito bem colocado no que você escreveu. Acho que estamos no caminho certo =D
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